Por que o uso do conceito de TRL é essencial na prototipação de produtos físicos

O desenvolvimento de produtos físicos inovadores exige decisões estratégicas em meio à incerteza técnica, de mercado e de fabricação. Nesse cenário, o uso do conceito de TRL — Technology Readiness Level — tem se consolidado como uma ferramenta indispensável para medir a maturidade tecnológica e mitigar riscos durante a prototipação e desenvolvimento de soluções complexas.

1. O que é TRL (Technology Readiness Level)?

TRL é uma sigla para Technology Readiness Level, ou Nível de Maturidade Tecnológica, e representa uma escala de nove níveis criada para medir, de forma sistemática e objetiva, o grau de maturidade de uma tecnologia ao longo de seu ciclo de desenvolvimento — desde os primeiros conceitos científicos até a aplicação final em um sistema operacional completo. A metodologia foi inicialmente desenvolvida pela NASA na década de 1970 e posteriormente adotada por agências como ESA (Agência Espacial Europeia), DoD (Departamento de Defesa dos EUA), DOE (Departamento de Energia dos EUA) e hoje é amplamente usada também pela indústria privada, especialmente nos setores de aeroespacial, automotivo, energia, médico, defesa e inovação industrial.

2. A lógica por trás do TRL

A principal função do TRL é reduzir riscos de desenvolvimento tecnológico ao fornecer uma linguagem comum e padronizada entre engenheiros, gestores, fornecedores e investidores. Ele serve como uma ferramenta de apoio à decisão: ajuda a identificar se uma tecnologia está pronta para evoluir para a próxima fase — seja prototipagem, testes, validação ou industrialização.

NÍVEL DESCRIÇÃO OBJETIVO
TRL 1 Princípios científicos básicos observados Início da pesquisa fundamental
TRL 2 Formulação do conceito tecnológico Geração de ideias e hipóteses de aplicação
TRL 3 Prova de conceito analítica ou experimental Demonstração teórica ou laboratorial da viabilidade
TRL 4 Validação de componentes em ambiente de laboratório Protótipos iniciais e testes controlados
TRL 5 Validação de componentes em ambiente relevante Protótipo funcional testado em ambiente semelhante ao real
TRL 6 Demonstração de modelo ou sistema em ambiente relevante Protótipo funcional testado em ambiente semelhante ao real
TRL 7 Demonstração de sistema em ambiente operacional Sistema em escala real testado em campo real
TRL 8 Sistema real testado e qualificado Produto pronto para ser lançado no mercado
TRL 9 Sistema real em operação com sucesso Tecnologia comprovadamente em uso comercial ou operacional

TRL não é apenas sobre prototipagem

Apesar de estar diretamente associado a protótipos e testes, o TRL não se restringe à engenharia. Ele envolve critérios claros que abrangem:

• Entendimento dos requisitos funcionais

• Adequação ao ambiente operacional

• Validação por testes reais e simulados

• Avaliação de riscos técnicos e programáticos

• Evidências quantitativas de desempenho e confiabilidade

A progressão de um nível ao outro exige evidências técnicas

A importância do TRL na prototipação

Na prática, muitos projetos fracassam por dois motivos principais: prototipação precoce em tecnologias imaturas ou excesso de investimento em soluções que ainda não comprovaram viabilidade técnica ou comercial. O TRL ajuda a evitar ambos os cenários, oferecendo critérios técnicos para saber quando e como avançar de uma etapa para outra. Veja como o uso do TRL fortalece o processo de prototipagem:

1. Estruturação da Jornada Tecnológica

Cada nível TRL define requisitos técnicos específicos — desde validações em laboratório (TRL 3-4), até testes em ambientes relevantes (TRL 5-6) e certificações de sistemas completos (TRL 8-9). Isso permite planejar uma jornada realista e estruturada para o produto, respeitando as fases de maturação.

2. Tomada de decisão baseada em evidências

Ao associar cada avanço de TRL a entregáveis técnicos — como testes funcionais, simulações, validações em campo ou integração com sistemas — a empresa toma decisões com base em dados, não em suposições. Isso reduz riscos e melhora a previsibilidade de custo e cronograma.

3. Alinhamento entre stakeholders

O TRL cria uma linguagem comum entre as diferentes áreas envolvidas no projeto — engenharia, design, P&D, marketing, fornecedores, clientes e investidores — permitindo um alinhamento mais eficiente e evitando retrabalho.

4. Evita saltos prematuros para a produção

Um erro comum em startups e empresas com pressão de mercado é partir para a industrialização com um protótipo ainda em TRL 3 ou 4. Sem validação em ambientes relevantes (TRL 5-6), esse salto pode gerar perdas financeiras, recall de produtos e desgaste da marca.

TRL e Design de Produto: aliados, não inimigos

Muitas vezes, o TRL é visto como um “freio” à criatividade do design. Na verdade, é o oposto: ele dá segurança ao processo criativo, permitindo que soluções ousadas avancem com consistência técnica. Na DUO, aplicamos o TRL de forma integrada ao Design Industrial e à Engenharia de Produto, garantindo que as soluções propostas tenham viabilidade prática e escalabilidade fabril desde os primeiros conceitos.

Conclusão: TRL como diferencial competitivo O uso sistemático do TRL transforma o desenvolvimento de produtos em um processo de menor risco, maior eficiência e alinhamento com as expectativas de mercado. Para empresas que desejam inovar com responsabilidade e previsibilidade, o TRL não é apenas uma boa prática — é uma vantagem competitiva. Na DUO, aplicamos o conceito de TRL em nossos projetos para empresas de diferentes setores, assegurando que cada etapa do desenvolvimento — do conceito ao produto final — seja guiada por critérios técnicos claros e validados.